(Três perguntas, e as três respostas, da entrevista de Eduarda Ferreira a Alexandre O'Neill, publicada no 'Notícias da Tarde' de 17/9/1983) - A irreverência de alguns dos seus poemas não visa alguém em especial? - Haverá pessoas que devem sentir-se atingidas. Não me rejeito como um poeta feito de retratos ferozes de certas categorias de pessoas que há no nosso país. Há um argumento constante que refere a minha poesia como brincada. É que, de uma forma geral, também permanece a ideia de que a poesia tem de ser triste. Isso percebe-se pela atitude dos recitadores da rádio ou na televisão. Fazem todos uma voz ou uma cara muito triste antes de começarem a dizer um poema com ar soturno. - São os responsáveis por atropelos graves da poesia? - Isso adapta-se à minha e às outras. Boa parte do que vai aparecendo divulgado na rádio ou na televisão, até agora, tem sido um acto fúnebre. Parece que esses recitadores são de uma agência funerária, que enterraram ou vão enterrar um corpo. - Acusa disso também o Mário Viegas? - Evidentemente que esse é um caso à parte. É um caso de inteligência pela poesia, ele não entra na categoria dos chatos que debitam poemas. ('A descoberta da poesia é sempre solitária', in "Diz-lhes que estás ocupado - conversas com Alexandre O'Neill", Tinta da China, 2021)
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