Notas do compositor sobre a obra: "Variações em busca de um tema de Matos Rodríguez '¿Qué misterio esconden sus compases que lograron penetrar en el gusto de tanta y tan diversa gente?' (Ricardo García Blaya) A sentença acima resume, de forma magnífica, tudo o que se pode dizer ou perguntar sobre este tema do uruguaio Gerardo Hernán Matos Rodríguez (1897-1948), tão conhecido e tão usado de diferentes formas e arranjos. Ao mesmo tempo me fascinou a oportunidade, e também o desafio, de criar variações sobre uma música já tão rebuscada e que certamente tem uma história que se confunde com a própria história do Tango. Assim sendo seria igualmente apropriado chamar esta obra de “Variações em busca de uma música...”, já que este tango que me serviu de inspiração é composto por mais de um tema que foram igualmente explorados por mim. Assim, cada variação é uma referência livre a manifestações, situações ou até mesmo sentimentos que fazem parte da história desta música que foi escrita por volta de 1915, não em forma de tango originalmente, mas como uma Marcha para uma Comparsa de Carnaval organizada pela “Federación de Estudiantes del Uruguay”; aliás, essas marchas ou candombes, segundo alguns estudiosos, tem origens tanto africanas, como os batuques, quanto europeias, como a Contradanza espanhola de onde derivam alguns outros ritmos latinos como a salsa, isso só para ilustrar o quão ligados estão todos os ritmos latino americanos, inclusive a tão nossa “marcha-rancho”, ligação essa que fiz questão de salientar em minha obra. O primeiro registro dessa música que me inspirou a compor as variações data de 1916 e em abril deste ano, o jovem Matos Rodríguez, por intermédio de um amigo, mostra-a ao maestro e pianista Roberto Firpo, que nesta época, regia uma orquestra de tango. O maestro aceitou tocá-la mas, previamente, fez uma nova versão e inseriu, em forma de trio, uma parte de um tango de sua própria autoria intitulado "La gaucha Manuela", e também uma frase baseada em um Miserere de Giuseppe Verdi. Assim sendo, para fazer a real justiça, talvez tivéssemos que dizer que este é um tema de Matos Rodríguez, Firpo e Verdi. Por volta de 1924, esta obra estava caída no esquecimento (Olvido), mas ocorreu um fato que a trouxe de volta à circulação. Sem a autorização do compositor, Pascual Contursi e Enrique Pedro Maroni, deram versos a ela e a colocaram um novo nome: "Si supieras";. Isto causou a fúria de Matos Rodríguez, originando um juízo que só se resolveu em 1948, ano de sua morte. Esta nova versão cantada foi estreada por Juan Ferrari e depois foi gravada por Carlos Gardel neste mesmo ano em Buenos Aires e quatro anos mais tarde em Barcelona. Depois de 1924, foram escritas outras letras para esta melodia, inclusive pelo próprio compositor, mas nenhuma teve tanto êxito quanto aquela primeira. Em 1947, estreia um filme espanhol dirigido por Antonio Monplet, com o nome deste popular tango, e mais adiante em 1961 é usado como tema de outro filme espanhol intitulado "Canción de Arrabal", de Enrique Carreras. Vale lembrar aqui um fato curioso: Segundo dizem os historiadores, o grande compositor Astor Piazzolla haveria dito que este tango era o pior de todos, “o Tango mais espantosamente pobre do mundo”. Não obstante, somente Piazzolla o gravou em quatro versões distintas durante sua carreira, o que só corrobora a ideia do especialista em tangos Ricardo García Blaya que diz: “esta obra tão especial, incomparável em número aos outros tangos, é eminentemente instrumental, de aparência simples, mas que contém uma melodia envolvente e bela e possui uma peculiar condição de recriar-se constantemente numa sorte de simbioses, conforme seja a personalidade de seu eventual intérprete”. As “Variações em busca de um tema de Matos Rodríguez” estão dispostas propositadamente em ordem inversa para acentuar a ideia de que a obra segue uma trajetória diferente da maioria dos “Tema com variações” já existentes; estes últimos geralmente começam com a exposição do tema e logo em seguida vem a apresentação das variações que, na maioria das vezes, vão ficando mais complexas e, consequentemente, mais e mais distantes do que seria o tema em sua essência. Na minha obra, porém, além de não apresentar o tema (ou temas) na sua forma pura em nenhum momento, apesar de chegar próximo a isso, inicio com as variações mais distantes e vou-me acercando aos poucos à ideia original do mesmo, numa forma livre onde exploro diversas faces para um mesmo personagem e onde muitos elementos, tanto harmônicos como rítmicos, podem vir com algum grau de surpresa para o ouvinte. Por isso mesmo me reservei ao direito de não elucidar aqui o título desta obra na qual me inspirei, que seguramente todos conhecem ou já ouviram alguma vez, dando assim a oportunidade a cada ouvinte de ter o seu particular momento de 'descobrimento' ".
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