Chega Mais
Sabe audiência recorde de Campeonato Brasileiro?
Na última rodada de 2021, em 9 de dezembro, ela chegou a 41 pontos no Rio, melhor marca em 11 anos. E olha que o Flamengo não tinha como alcançar o campeão Atlético-MG e, desfalcado, foi derrotado pelo Atlético-GO por 2 a 0. Mas isso é "nada" se comparado a audiência das novelas da Rede Globo nos anos 80. Chega Mais, por exemplo, folhetim das 19h exibido de março a setembro de 1980, teve média de 63,2 pontos, com picos de 74, ficando atrás apenas de Água Viva, a novela das 20h, e do imbatível Jornal Nacional. Tudo para acompanhar a história escrita com humor por Carlos Eduardo Novaes sobre o casal Gelly (Sônia Braga) e Tom (Tony Ramos). E, imagine, ainda teve gente achando que a novela foi um fracasso frente aos números da época...
Com tamanha penetração, as novelas lançavam moda, gírias e, refletindo ainda que parcialmente nossa sociedade, discutiam costumes, forjavam gostos e opiniões. Ter uma música numa trilha sonora era certeza de sucesso. Aí vem Chega Mais, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, como música tema da novela homônima. E Rita já colecionava hits. Foi covardia...
Jamil Joanes
Chega Mais, a música, está no primeiro trabalho em disco (lembra disso?) da dupla Lee/Carvalho, o álbum Rita Lee, de 1979, ao lado de outros megassucessos como Mania de Você, Corre-Corre e Doce Vampiro.
Além da voz e violão de Rita e da guitarra de Roberto de Carvalho, Chega Mais, arranjada por Lincoln Olivetti, tem as participações de Picolé (bateria); Robson Jorge (guitarra); Claudia Telles, Sonia Buernier e Jane Duboc (vocal); Nenem (apito); Netinho (clarineta); Márcio Montarroyos e Hamilton (trompete); Zé Bodega (sax tenor); e Maciel (trombone). De quebra, Lincoln no piano elétrico e sintetizador e, no baixo, Jamil Joanes - descrito por Arthur Maia, um dos maiores baixistas que já passaram pela Terra, como a Fernanda Montenegro do instrumento. Caso você não viva entre nós, a atriz é o paradigma do teatro brasileiro.
Arthur brincava muito, mas não falava isso à toa. Em meados dos anos 70, em plena efervescência do Black Rio - movimento de contracultura inspirado na revolução da black music nos Estados Unidos e que envolveu gente como Cassiano, Tim Maia, Tony Tornado, Don Salvador, Lady Zú, Gerson King Kombo - Jamil, recém-chegado de Belo Horizonte (MG), tocava na Banda Black Rio em bailes nos subúrbios cariocas (os ditos crooners eram os então desconhecidos Sandra de Sá e Carlos Dafé). Ou seja: tinha de botar o público pra dançar. Com muita brasilidade, criatividade, personalidade, genialidade, musicalidade e muitos outros dades invejáveis, o baixista acabou juntando o suingue brasileiro ao funk e rhythm and blues - gafieira e soul - e, rapidamente, criou uma escola na qual todos nos matriculamos desde o lançamento, em 1977, de seu primeiro trabalho em disco, o LP Maria Fumaça, da Black Rio, que conta com duas composições suas: Junia e, apropriadamente, Mr. Funky Samba. Já em 79, Jamil grava com o tecladista norte-americano George Duke no álbum A Brazilian Love Affair.
Gênero nunca foi barreira. Basta dar uma rápida olhada na gigantesca lista de trabalhos de estúdio e palco do baixista: Gonzaguinha, Edu Lobo, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Elba Ramalho, Gal Costa, Luiz Melodia, Tim Maia, João Bosco, Toots Thielemans, Leny Andrade, Ney Matogrosso, Fágner, Zeca Pagodinho, Paulo Moura, Cássia Eller, Jorge Benjor, Beth Carvalho, Nara Leão, Toninho Horta, João Donato, Chico Buarque...
Ano emblemático
Enquanto, em 1980, o País experimentava maiores liberdades, despedia-se de vez do chamado "milagre econômico". A anistia, decretada no ano anterior pelo presidente João Batista Figueiredo (1979-1985), o último da ditadura militar, possibilitou o retorno de exilados políticos e uma reforma partidária acabou com o sistema bipartidário. Em1980, foi aprovada eleição direta para governador e o fim dos senadores “biônicos” (eleitos indiretamente).
Já a economia, que tivera forte crescimento entre 1968 e 1973 (o referido "milagre"), com o Produto Interno Bruto oscilando entre 9,8% e 14%, não vivia momentos, digamos, tão alegres. A má gestão dos recursos captados no exterior mergulhou o Brasil na crise da dívida. É que o governo militar tomou empréstimos para custear suas políticas desenvolvimentistas, mas logo os países desenvolvidos, em recessão causada pela crise do petróleo, reduziram o consumo de commodities (café e cacau, por exemplo). Aí já não dava para pagar. Mas piorou. Os EUA aumentaram os juros sobre produtos importados para combater a inflação e foram seguidos por outros do Primeiro Mundo. Os investidores internacionais correram para o dólar (por causa das taxas). O Brasil era pressionado a pagar a dívida, mas as commodities não vendiam o suficiente. O jeito era recorrer a mais empréstimos, a juros mais altos, chafurdando em mais dívidas. Esse fenômeno se repetiu pela América Latina e os anos 80 ficaram conhecidos como "a década perdida”.
Luciano "Coruja" Paço
Негізгі бет As Notas musicais & as Notas sobre os fatos da época no mundo. Chega Mais/Rita Lee. Bass Cover. #2.
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