Canção de Coronárias | texto e leitura Ygor Raduy
Óleo entre os ligamentos
mas doce ou retemperado
com a inclusão da semente
e dos laivos de branco --
da cera que de ti se derramava
e que urgia recolher da fonte:
o magma do teu centro,
volúpia de uma ostra,
canção de pedregulho.
Formação do óleo santo
entre os tendões, essência
acumulada nas camadas,
ligaduras entre farpa e farpa,
o odor, a impaciência,
o desfolhar da rosa já marcada:
fruta que em pomos desaberta,
escândalo de um rasgo.
Com se dá o aninhar-se,
a alegoria da palma sobre o vão,
rabisco inacabado em algum sul
como resto do teu olho
que ainda esvoaça, pássaro,
em revoadas guardadas,
dentro em peito, gravadas,
aquela tarde enquanto o sol.
Ranhura sobre a superfície concisa
e já tão árdua música costeira
como a implorar um gesto,
um arabesco sobre a espuma.
O tempo, potro bêbado,
risca na superfície abaulada e rija
do teu ventre a fina garatuja.
Permanência e rotação dos astros,
formação das ondas na voragem,
revoar dos ventos
sedimentação das placas, rachaduras,
manacial de onde emerge
a carnadura do corpo:
silêncio das espécies,
espinhos, nervura de hastes,
chuvas que duraram eras,
noites dentro das fossas,
confrarias,
súcias.
(E olhava a paisagem
como quem olha a própria
aspereza da terra,
como quem esfrega
na natureza da terra
a própria maciez das partes.
E caminhava como quem caminha
em direção às formações rochosas:
teu corpo erguido
era um talo de cacto,
teu corpo armado
na inclemência do dia
era um mastro ou uma estátua.)
Canção de coronárias
telhados de vime estruturados,
matéria fértil,
enxame de libélulas,
som das aleluias do corpo.
Húmus, matéria rica -
teu corpo desfigurado em pedaços,
bendita encarnação dos teus artelhos,
os ombros abertos, as escápulas,
bendita floração que da terra
produziu os movimentos,
o corte dos cílios em revolta,
cantilena de vespas esfaimadas.
Termina de torturar um escravo ou
passa nadando de soslaio
como quem urde a própria primavera
nos porões, testículos dos espírito,
centauro sob a tarde alva,
encordoados teus nervos, esticados,
destila sobre a hora alada
teu turbilhão, atira sobre o marasmo
da tarde teus sermões, teus epitáfios,
passa como quem leva nos colhões
a própria primavera ou mesmo
-- puro escândalo --
a vida desbragada, em sucessão de
acessos, como se despindo a
discrição da tarde, revelasse,
sob a capa da doçura da tarde,
a própria compleição do instante.
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