"Engenho Pedregulho, tu és um caso à parte. És-me muito caro, tanto, tanto que chego a não saber se és um pedaço de mim ou se eu é que sou um pedaço de ti. O certo é que te quero, e como te quero! ... Mais do que qualquer pessoa possa imaginar. Para mim foste mais do que um pedaço de terra, mais do que um engenho, foste algo palpitante de vida, de amor, irradiando-me paz, felicidade, bem-estar. Gostava do teu contato: ver tua beleza, pisar em teu solo, banhar-me em tuas águas, respirar o teu ar, comer teus frutos, chupar tua cana, que era mais doce porque era tua. E quantas vezes não pensei em pedir, ao morrer, ser cremada e ter as cinzas espalhadas por teus canaviais. Seria um minguado troco ao muito que me deste. Gostava de saber que sempre pertenceste a homens íntegros que fizeram do direito o seu lema."
"Tu, Pedregulho, acalentaste os meus sonhos de menina. Viste-me correr, pular janela, amorcegar carro de boi, cheinho de cana, percorrer-te na jumentinha Boneca e também no cavalo Melado. Viste-me ir à casa dos trabalhadores conversar, saber das crianças, ver os jiraus cheios de panelas de cravo, cravina, de rosa mesquita e outras plantas, normalmente crótons, e... sentir-me princesa, quando ia a Goiana de cabriolé. Viste, outrossim, o desabrochar de minha personalidade, o meu namoro e noivado com Zefernandes e os primeiros passos de minha filhas Mariú e Nazaré."
"Com meu bisavô Honorato, homem de muita coragem, acostumado a passar noites e noites na mata, caçando, ao vir, certa vez, de Goiana para Pedregulho, ao se aproximar da porteira fatídica, o cavalo refugou, não queria ir adiante de jeito nenhum. Honorato aperta as esporas e o bicho acuado sem querer prosseguir. De repente, a porteira vai se abrindo, bem devagarinho, sem que lhe ponha a mão, até que se escancara de todo. O cavalo empina. Honorato domina-o, tenta alcançar a porteira, mas essa tal qual se abrira, vota, sozinha a se fechar. Os clarões da lua batiam-lhe em cheio, podiam-se ver os arredores. Não havia ninguém ali por perto, mas Honorato escuta um gemido horrível e uma voz a dizer-lhe: - Afaste-se...afaste-se... Novamente a montaria refugou e empina e dispara em direção à casa-grande onde Honorato chega mais intrigado do que assustado. É que, até então, zombava dos que diziam ver ou ouvir almas penadas, asseverando: - Essas almas penadas só aparecem aos frouxos e aos fracos.
Trechos do livro: Velhos Engenhos de Minha Terra - autora: Andréa Gondim Fernandes.
Негізгі бет ENGENHO PEDREGULHO - PARTE I
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