Existiu um mar de amor, caridade, verdade e fé no coração do Recife pulsando há 91 anos. Espalhando acolhimento e muito axé, Mãe Terezinha Bulhões, foi uma das juremeiras e iyalorixás mais antigas de Pernambuco vivas e ativas em seus trabalhos espirituais e sociais. Com incontáveis filhos e filhas na religião, tendo prestado assistência há toda sua comunidade em sua trajetória, ela é uma referência importante da religião de matriz africana e indígena no Brasil, herdeira e continuadora das insígnias sagradas do candomblé e da Jurema Sagrada, um verdadeiro patrimônio vivo dos povos tradicionais de terreiro.
Infelizmente se encantou no dia 13 de novembro de 2021, deixando uma lacuna profunda na tradição de mátria africana e indígena no Brasil. Mais uma biblioteca viva se foi deixando grandes saberes da vida para quem vivenciou toda sua bondade e axé.
Como homenagem à sua trajetória e fundamental contribuição à nossa religião, Alexandre L’Omi L’Odò assumiu o papel de diretor e roteirista de um filme (média metragem) que registra a memória e história dessa grande liderança religiosa de nosso tempo, cujo nenhum registro oficial e documental sistematizado consta de sua existência, até então. Com produção audiovisual do Angola Filmes e realização do Quilombo Cultural Malunguinho e a Casa das Matas do Reis Malunguinho, o projeto Mourão que não Bambeia, que tem como objetivo registrar e salvaguardar a memória, história oral e tradicional do povo de terreiro de nosso Estado através de pesquisa e registro documental e audiovisual, faz nascer seu primeiro trabalho de preservação de memória oral dos grandes sacerdotes e sacerdotisas da religião de terreiro em Pernambuco.
A missão desse filme é eternizar a memória de Mãe Terezinha Bulhões, trazendo-a como protagonista de sua própria história, mostrando à toda sociedade que ela existiu e que merece respeito histórico. Esse projeto é anti apagamento da memória ancestral, afinal sabemos que existe uma lacuna imensa a ser preenchida sobre a história de nossa religião. Quase não há registros qualificados dos mais velhos dos terreiros e quando esses e essas morrem, toda sua trajetória se apaga no mar do esquecimento do racismo estrutural que nos assola socialmente. Temos que barrar esse processo e dar voz e vez à pessoas como Mãe Terezinha e tantas outras que merecem ser reconhecidas ainda em vida pela sua importante contribuição na história e desenvolvimento da sociedade como um todo.
No coração do Recife existiu um mar, um oceano de amor sim, lá na Vila das Lavadeiras (Rua Palmares, nº 56, Areias) morou a felicidade e a resistência negro-indígena dos povos tradicionais de terreiro e toda sua história que forma a identidade deste país que precisa se encontrar consigo próprio para se reconhecer.
O filme foi lançado no dia de seu aniversário, 07 de outubro de 2020, data de seu aniversário de 90 anos, com apresentações de maracatu e coco, exibição do filme para toda comunidade e celebração coletiva de seu aniversário. Foi um momento ímpar registrado na alma de todos nós.
Com autorização da família, publico seu filme, sua memória, sua fala, e sua luta. Esse trabalho foi feito com muito amor e respeito. Mãe Terezinha sempre foi muito admirada por mim e por todos. Sinto-me honrado de ter sido escolhido pela espiritualidade para fazer e concluir esse trabalho único. Obrigado Iyemojá Sessú e Reis Malunguinho.
Ela com certeza toda Jurema a recebeu com alegria e luz. Com tanta humanidade e amor, ela hoje descansa leve com todo seu dever ancestral cumprido na terra. Bença mãe Terezinha, até breve. Obrigado por tudo que sua existência me ensinou.
Ficha Técnica
Concepção, Roteiro, Pesquisa e Direção: Alexandre L’Omi L’Odò
Produção Audiovisual: Angola Filmes
Produção Executiva: Alexandre L’Omi L’Odò
Fotografia, Montagem e Finalização: Adriano Lima
Assistentes de Edição: Pollyanne Carlos e Zé Gabriel
Assistentes de Produção: Diviol Lira e Welica Terezinha e Daniel Menezes
Assistente de Gravação: Diviol Lira
Projeto Gráfico/Cartaz: Adriano Lima
Articulação e Produção: Nadja de Oyá, Vado de Pau Ferro e Carolina Bulhões
Trilha Sonora Original: Alexandre L’Omi L’Odò e Obé Iná
Direção de Arte, figurino e dançarina (Iyemojá): Obé Iná
Realização Geral: Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho
Participações/depoimentos:
Pai Vado de Pau Ferro (juremeiro e babalorixá)
Pai Paulinho da Luz (babalorixá e juremeiro)
Hilton Bulhões (filho carnal)
Contatos: alexandrelomilodo@gmail.com
ATENÇÃO: Está proibido o download desse filme, completo ou suas partes, para publicação em páginas de instagran, facebook e youtube de terceiros sem autorização do diretor.
Негізгі бет Filme Mãe Terezinha Bulhões - um mar de amor no coração do Recife (43'41)
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