Vijay Bapu Maha Sandhya Aarti
Ashram Pujya Shree AapaGiga Samadhistan, Satadhar, Junagadh, Gujarat, India,
2008. Gujarati Darshan (416). Vijay Bapu’s Maha Aarti (417) retrata um episódio relacionado com a visita e estadia no Ashram Pujya Shree AapaGiga Samadhistan, localizado na vila de Satadhar, distrito de Junagadh da península do Saurastra (sul do Gujarat), por parte de uma família de imigrantes indianos residentes na Europa. Este ashram foi fundado no início do século XIX por um guru local, AapaGiga, relacionado com a mitologia de Shree Papadir (búfalo sagrado de Satadhar), mencionada na poesia de um bhajan (música devocional hindu), cantado pelo imigrante Rameshbhai em eventos religiosos realizados em Londres e em Lisboa. O local (Satadhar) e o ashram tornaram-se nas últimas décadas num dos principais pontos de peregrinação no estado do Gujarat devido à recuperação e reconstituição de práticas religiosas interpretadas enquanto práticas ritualistas hindus tradicionais, remontando às escrituras védicas, mas também em virtude da prática de dádivas alimentares e do abrigo e protecção de gado. A peregrinação religiosa é um assunto sério na Índia, não apenas por ser parte das tradições devotivas bhakti, como também pela potencialidade de atrair multidões de peregrinos e visitantes, daí resultando importantes receitas financeiras. Nessa medida, este género de espaços, situados em distritos rurais empobrecidos, tornam-se locais relevantes para o fortalecimento da economia e das políticas locais. Além disso, os ashram funcionam não apenas enquanto centros para a representação e performação da espiritualidade, mas também como ‘lugares’ para a produção de consenso e disciplina social, através da produção de solidariedades e alianças entre religião, política e dinâmicas sociais locais. Neste processo, o guru do ashram é um actor social altamente respeitado e reverenciado ao nível local, procurando frequentemente ampliar a sua influência tirando partido de Non Resident Indians (NRIs) para a criação de filiações do ashram na diáspora. Na verdade, esta tipologia de locais sagrados é particularmente procurada por NRIs e imigrantes indianos de visita à Índia, precisamente pela percepcionada conexão com a ‘Índia real’ e com autênticas representações de hinduísmo - propensão reforçada pelos media indianos numa escala nacional e transnacional (cinema Bollywood, redes de televisão indianas operando a um nível global, internet sites e redes sociais, etc.).
Após uma introdução à genealogia dos gurus do ashram e à mitologia de Shree Papadir por parte do imigrante cantor de bhajan, Rameshbhai, a família é chamada à atenção para a realização do sandhya aarti (aarti do crepúsculo) local, que constitui uma das atracções do ashram devido à intensidade ritual e sonora com que este ritual é performado. A oblação pelo fogo por um pujari (especializado neste ritual específico), sob um fundo sonoro intenso constituído pelo rebate de sinos e de percussões, constitui um dos exemplos dos processos de re-tradicionalização porque passam várias práticas hindus, discursivamente enunciadas localmente como recuperando antigos costumes védicos. Mas, em simultâneo, este aarti constitui igualmente uma exibição de poder do ashram, que reforça e perpetua a sua influência social, económica e simbólica. Efectivamente, a intensidade do ritual pode ser associada a versões musculadas, intensas e patriarcais de hinduísmo que são promovidas pelas estruturas locais. Para a família de visita ao ashram, o sandhya aarti parecia ressoar com as suas expectativas de práticas religiosas antigas, válidas e vigorosas que os conectavam com autênticas e antigas formas de hinduísmo, reforçando assim a sua identidade hindu (418), por sua vez, reproduzida e disseminada pelo interlocutor, cantor de bhajan, por via das canções que performa em encontros religiosos em Londres e em Lisboa.
416. O termo darshan refere-se ao contacto visual com a figura da divindade, acompanhado com uma atitude interior de devoção.
417. Documentário estreado no encontro da SIBE (Sociedad Iberica de Etnomusicología), realizado em Lisboa em 2010, por inspiração da frequência das aulas sobre Fielwork Documentary ministradas pelo etnomusicólogo John Baily, Goldsmiths College (Londres, 2006).
418. Após o ritual, os membros da família foram conduzidos para uma sala privada que pertencia a um dos gurus do ashram, sendo-lhes oferecidos presentes sagrados (rosários abençoados) que deveriam usar enquanto sinal de ligação e conexão com um guru gujarati. Numa interpretação alternativa, esta acção pode relacionar-se igualmente com complexo conjunto de implicações sociais e culturais implicadas no acto de ‘oferta’ ou ‘doação’. A ‘doação’ gera relações de mutualidade entre o doador e o recipiente. A família ‘recebe’ a ligação espiritual ao guru e retribui com um contributo financeiro ao ashram.
Rec: Pedro Roxo, Satadhar, Gujarat - India, 2008
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