MÚSICA NA CORTE BRASILEIRA - Volume 1 - O Vice-Reinado
Até alguns anos passados, não seria possível realizar esta série de discos que a ODEON denominou "Música na Corte Brasileira" e com a qual se associa às comemorações do IV Centenário de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro.
Efetivamente, o repertório de que se compõe este primeiro volume da série é, por assim dizer, inteiramente novo para os ouvidos das últimas gerações de brasileiros.
São peças buscadas nos arquivos de Lisboa, de Paris e do Brasil, que trazem, com o sabor característico de documentos amarelecidos pelo tempo, a evocação de uma época distante, quando o Rio de Janeiro, prestigiado com a presença da família real e da nobreza portuguesa, passou a ser a sede da Corte de D. Maria I, a Louca.
O Príncipe Regente, governando em nome de sua Augusta Mãe, era um Bragança e, como tal, portador de um atávico pendor para a música.
Não é de estranhar que esse pendor se exercesse em primeiro lugar no templo, já que, filho de uma rainha cujo misticismo chegou ao delírio e à loucura, D. João trazia do berço o hábito de rezar o terço ouvindo o cantochão.
Fora do templo, havia o salão, onde se fazia música com viola e cravo. E, somente em dose diminuta, havia também a música de teatro.
O primeiro autor a figurar no repertório aqui apresentado é Joaquim Manuel, mestiço carioca nascido no século XVIII e que ainda em 1820 vivia no Rio de Janeiro. Joaquim Manuel passou à História graças à maneira excepcional com que executava "une petite viole française, appelée cavaquinho" e ao talento musical que rpvelava compondo modinhas.
Sem saber uma nota de música, Joaquim Manuel causou forte impressão em alguns viajantes e cronistas da época, entre os quais Freycinet e Balbi, além de Neukomm, o músico austríaco que, permanecendo no Rio de Janeiro de 1810 a 1821, levou para a Europa algumas das modinhas de Joaquim Manuel, harmonizando-se e fazendo-as publicar num álbum, em 1824, ano em que foi anunciado à venda, em Lisboa, no Armazém de Música de J. B. Waltmann.
A descoberta das modinhas de Joaquim Manuel se deve a Luís Heitor, que encontrou recentemente na Biblioteca do Conservatório de Paris as harmonizações autografas de Neukomm, para canto e piano. Do álbum impresso cm Paris não há noticia de um único exemplar.
As modinhas de Joaquim Manuel constituem o que de melhor existe na música profana do Brasil Colônia e podemos ouvir aqui as seguintes: Se me. Desses um Suspiro, Se Queres Saber a Causa, Foi o Momento de Ver-te, Triste Salgueiro i1 Desde o Dia em que Nasci.
De Marcos Antônio (Mascos Portugal, 1762-1830), com poema de Domingos Caldas Barbosa (l740-1800), é a modinha Você Trata o Amor em Brinco, peça descoberta pelo autor destas notas na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Sendo a maior figura da música colonial brasileira, o Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), deixou uma obra numerosa, da qual conhecíamos pouquíssimas peças. Graças a pesquisas de Cleofe Person de Matos, começamos a ter do Padre-Mestre o conhecimento auditivo que nos faltava.
De José Maurício são as peças Crux Fidelis, de 1806, Judas Merca tor Pessimus de 1809 e, finalmente, a Sinfonia Fúnebre, de 1790, executada nas exéquias do autor em 1830.
Novembro, 1965.
MOZART DE ARAÚJO
FACE A
1. Anônimo da Bahia - Uma Mulata Bonita
2. Anônimo do Século 18 - No Regaço da Ventura
3. Joaquim Manuel - Se me Desses um Suspiro
4. Joaquim Manuel - Se Queres Saber a Causa
5. Joaquim Manuel - Foi o Momemento de Ver-te
6. Joaquim Manuel - Triste Salgueiro
7. Joaquim Manuel - Desde o Dia em que Nasci
8. Marcos Portugal - Você Trata o Amor em Brinco
FACE B
l. Canidê-loune (Música carioca do século 16) (Rec. Jean de Lery - Harm. Villa-Lôbos)
2. José Maurício - Crux Fidelis
3. José Maurício - Judas Mercator Pessimus
4. José Maurício - Sinfonia Fúnebre
Esta iniciativa, que mereceu o apoio e a colaboração valiosa da Rádio Ministério da Educação e Cultura e do seu diretor, Prof Eremildo Luiz Vianna, oferece aos estudiosos da música de nossa terra um amplo panorama da produção musical, desde a época colonial até os nossos dias. E é com real orgulho que a ODEON coloca ao alcance de todos a preciosa documentação do talento criador de nossa gente.
EQUIPE DE PRODUÇÃO ARTÍSTICO-FONOGRÁFICA REALIZADORA DESTE DISCO
Diretor de Produção: Milton Miranda
Diretor Musical: Lyrio Panicali
Coordenador de Produção: Maurício Quádrio
Coordenador-Assistente: Marlos Nobre
Regente: Alceo Bocchino
Diretor Técnico: Z. J. Merky
Técnicos de Gravação: Jorge T. da Rocha - lanos Geszti
Técnico de Laboratório: Reny R. Lippi
Lay-Out: Moacyr Rocha
Foto: Staff-Press
ESTE DISCO FOI PRODUZIDO COM A COOPERAÇÃO DA RÁDIO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
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