A importância dos cactos presentes na flora da Caatinga
Os seres vivos que habitam ambientes áridos, como no Bioma Caatinga, são exemplo de sobrevivência à escassez de água. Cada animal ou planta que vive nessas áreas desenvolve suas próprias estratégias para driblar essa situação. No que se refere às plantas, essas estratégias podem ser de fugir à seca, de modo que só observamos essas espécies no período chuvoso, ou estratégias de tolerar a seca para sobreviver nos períodos de estiagem.
Dentre as estratégias das plantas tolerantes encontra-se a suculência de seus órgãos vegetativos (raiz, caule ou folha). O órgão suculento é caracterizado por uma região normalmente inchada e quando cortadas podem liberar uma substância viscosa (p. ex. Babosa, Croatá, Macambira e Espada de São Jorge). As plantas suculentas possuem um mecanismo de estoque interno de água que pode ser utilizado em períodos de secas prolongadas.
A planta símbolo da Caatinga, o Mandacaru, é uma suculenta da família dos cactos. Só no Nordeste, ocorrem 116 espécies de cactos, dos quais 90 estão presentes na Caatinga. Os representantes dessa família apresentam características marcantes, como: rara presença de folhas, presença de espinhos organizados em auréolas (estrutura elevada de onde deveria sair a folha); ramos comprimidos, ou cilíndricos; flores geralmente grandes e muito chamativas.
Os únicos representantes dos cactos que possuem folhas fazem parte do gênero Pereskia, que na Caatinga é representado por 4 espécies, todas elas podem ser popularmente conhecidas como Ora-pro-nobis, sendo apreciada por algumas espécies possuírem folhas comestíveis. Estudo científico desenvolvido na Universidade Estadual de Santa Catarina identificou teor significativo de minerais como manganês, magnésio, ferro, cálcio, além de vitamina C e fibras nessas estruturas, revelando potencial bioativo comparável ao encontrado no espinafre e couve.
Entre as espécies de cactos amplamente conhecidas na região, merecem destaque: Palma, Mandacaru, Xique-xique, Facheiro, Quipá e o Coroa-de-Frade. O primeiro é uma importante fonte alimentar para os animais que vivem neste ambiente, pois em períodos de estiagem prolongada boa parte da cobertura vegetal fica seca, ou morre, restando pouca fonte de alimento disponível. Sabendo disso, a população sertaneja tem investido em plantações de Palma, para alimentar o gado em períodos de escassez de chuva, como uma estratégia para manter o rebanho vivo nesses períodos. Além de alimentar o gado a Palma também pode ser incluída na dieta humana, como sugerido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e estudos desenvolvidos pela Embrapa revelam a presença de bioativos com funções antioxidante e anti-inflamatório em frutos e outras partes da planta.
Por Thaíla Vieira Alves dos Santos* e Bruno Edson-Chaves** (*Mestre pela Universidade Estadual de Feira de Santana e especialista em plantas suculentas e **professor da Universidade Estadual do Ceará)
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