Décimo vídeo da série sobre crítica textual, tratando sobre o cânon do Novo Testamento.
"Cânon" vem de uma palavra grega que significa "vara de medir." Com o passar do tempo, esta expressão passou a significar um padrão, uma regra. Aplicada às Escrituras, diz respeito à sua autenticidade e ao seu reconhecimento como Palavra de Deus.
Quem estuda este assunto do cânon do Novo Testamento encontra a informação que o cânon teria sido reconhecido no Concílio de Cartago, no ano de 397 d.C. Mas equivoca-se quem pensa que, antes disso, os livros que compõem Novo Testamento não era conhecidos e reconhecidos como Palavra de Deus.
Quanto ao Concílio de Cartago, é possível usar um jogo de palavras que é bem conhecido de quem é da área do Direito, como é o meu caso. Este concílio teve um caráter declaratório, e não constitutivo. Ou seja, ele apenas afirmou algo que já existia, que já era reconhecido pela igreja. Ele não criou nenhuma situação nova. Para entender isso, nós precisamos compreender um pouco a própria história dos escritos do Novo Testamento.
Um dos critérios para o reconhecimento de um livro do Novo Testamento como canônico é a "apostolicidade" - ou seja, a autoria de um apóstolo, ou a proximidade do autor a um apóstolo (como Lucas e Paulo e Marcos e Pedro). Vamos começar por aí.
Enquanto os apóstolos estavam vivos, eles mesmos serviam de cânon. Eles deram continuidade à mensagem do Cristo de Deus. E é importante perceber que a autoridade dos apóstolos está baseada na autoridade do próprio Cristo e na missão que ele delegou a eles.
Aliás, muitas das cartas, que formam uma grande parte do Novo Testamento, foram escritas pelos apóstolos exatamente para corrigir problemas práticos ou doutrinários. Vemos isso em Gálatas, já estudada por aqui, e vemos isso nas Cartas de João, o que também já foi tratado num vídeo.
E essa questão doutrinária é importante para nós compreendermos esse processo de reconhecimento do cânon. Os Evangelhos e os escritos dos apóstolos sempre foram reconhecidos pela igreja como Palavra de Deus. Mas muita coisa, que não era de autoria dos apóstolos e que continha heresias, começou a se misturar na igreja. E exatamente por isso foi necessário estabelecer o cânon do Novo Testamento (reconhecer expressamente quais livros tinham a autoridade que vem de Cristo e dos apóstolos).
Então, as heresias e os escritos ditos apócrifos tiveram um papel importante de motivar a necessidade de reconhecimento do que é canônico. E com essa observação nós podemos nos aprofundar um pouco mais na demonstração de que o Novo Testamento já foi produzido como Palavra de Deus e assim reconhecido pelos seus destinatários. Por exemplo, em 1 Timóteo 5.18, Paulo cita palavras de Jesus registradas no Evangelho de Mateus (10.10) e Lucas (10.7), como Escritura, ao lado da lei de Moisés (Deuteronômio 25.4). Já Pedro, na sua Segunda Carta (3.15 e 16), trata as cartas de Paulo como Escritura.
Além dessa postura dos próprios apóstolos, a igreja primitiva sempre reconheceu o Novo Testamento como Escritura. Nós temos, por exemplo, na virada do Século I para o Século II, a Carta de Clemente aos Coríntios e o escrito conhecido como Epístola de Barnabé citando partes do Novo Testamento como Escritura. No Século II, o Novo Testamento é citado como Escritura nas sete cartas de Inácio e na carta de Policarpo aos Filipenses. Se avançarmos, vamos ver o mesmo em outros escritos do Século II: o Pastor de Hermas, a Carta a Diogneto, em Justino Mártir, em Irineu e em Tertuliano. Irineu, inclusive, menciona expressamente os quatro Evangelhos, de Mateus, Marcos, Lucas e João. E, com isso, nós chegamos à transição do Século II para o III.
Essa é uma pequena prova de que a igreja sempre tratou os Escritos do Novo Testamento como Palavra de Deus, e que, por isso, o Concílio de Cartago, no final do Século IV, teve apenas um “caráter declaratório” (reconheceu algo que já era amplamente aceito).
E por que isso é importante para o estudo da crítica textual (mais precisamente, para considerarmos a teoria do texto majoritário)? Por que isso demonstra que os verdadeiros cristãos sempre tiveram cuidado do Novo Testamento como Palavra de Deus. Com isso, houve cuidado com a transmissão do texto que foi preservado na maioria dos manuscritos (e, mais especificamente, na Família 35), assunto que nós já tratamos em outros vídeos aqui do canal.
Assista também:
- Novo Testamento: INSPIRADO e PRESERVADO # 2
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- Crítica Textual: manuscritos mais antigos são mesmo melhores??? # 5
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- GÁLATAS. Introdução: o Evangelho do Cristo X um evangelho diferente
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Негізгі бет O Cânon do Novo Testamento # 10
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