João Martins, 60 anos, é o tipo do mineirinho "comiqueto". Morador da localidade de Alpercata, nos arredores de Governador Valadares, ele aproveita a feira livre realizada aos domingos na área externa do Mercado Municipal da maior cidade do Leste mineiro para vender um produto do arco da velha: o rapé. Do francês, raspar, é o tabaco ou fumo em pó para cheirar.
O rapé tem seu uso bastante difundido nas regiões norte/ nordeste do Brasil. Os índios brasileiros já o utilizavam quando chegaram os europeus, de uma forma ritual, bem diferente do que se conhece hoje. Era visto de maneira contraditória: às vezes como hábito, às vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de Assis (Bote de Rapé) e Eça de Queirós (Os Maias).
Cada latinha de rapé (também popularmente conhecida como buceta) custa 1 real na feira livre do Mercado de Valadares. São vários aromas, bem ao gosto do freguês. Umburana e canela são os mais procurados. "Vem gente de tudo inquanto é canto comprá meu rapezinho", conta bem humorado.
Segundo João, não há nada como um bom rapé pra levantar o "moral". "Teve um cabra aqui istrurdia que já num guentava mais se assanhar pro lado das muié. Levô umas latinha de rapé e passô a fica fogoso qui nem minino novo fungando no cangote das cabrocha", proseia.
O sorridente mineirinho chega de mansinho antes mesmo que os primeiros raios do sol despontem no horizonte escorraçando as sombras da noite, dá um "bão dia" a todos, arma sua banquinha e o povo vai se aproximando para adquirir o famoso "pó do João".
A clientela é diversificada, além das pessoas mais simples e humildes tem até advogados, médicos e profissionais liberais à espera do atendimento. Em dias de grande movimentação, uma extensa fila é formada ao redor daquele homem simpático, pequena estatura e exímio contador de causos. Todos são atendidos pacientemente.
Ato contínuo segue-se uma incrível e ruidosa sessão de espirros: ATCHIMMMMMMM... ATCHIMMMMMMM... ATCHIMMMMMMM... quem quer rapé, gente?
Негізгі бет O famoso mineirinho do rapé
Пікірлер: 14