O MEDO GLOBAL - Eduardo Galeano
Trecho do livro de Eduardo Galeano “De pernas pro ar: A Escola do Mundo ao Avesso”
Nesta obra, Eduardo Galeano procura provocar emoções e consciências. Nestas páginas, que transitam pela ironia e, não raro pela indignação, desfilam uma enorme quantidade de fatos, eventos históricos e jornalísticos que buscam comprovar a incapacidade das pessoas de harmonizar justiça e liberdade.
"Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo de comida.
Os motoristas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de serem atropelados.
A democracia tem medo de lembrar e a linguagem tem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da polícia.
Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, medo da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.
Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver."
Eduardo Galeano ‘O Medo Global’,
Trecho do livro de Eduardo Galeano “De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso”
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