Nesse penúltimo vídeo sobre o “Percurso de Lacan”, vamos tratar de um tema bastante controverso, por vezes mal-entendido: a metáfora paterna. Mas para se entender esse conceito devemos remontar ao problema clínico do qual ele é uma resposta. O Nome do Pai é uma metáfora da Lei social, central para compreender o processo de individualização e socialização do desejo, a partir de uma releitura lacaniana do complexo de Édipo freudiano. Situa-se na continuidade das preocupações de Lacan sobre a paranoia e a alienação, na medida em que é pela nomeação de um lugar que é fonte do desejo (a lei social, o desejo de outro lugar além do familiar) que se pode cortar ou interditar a ilusão de fusão da criança com a “mãe” (ou seja, de quem exerce essa função, mesmo um grupo ou instituição). A criança não será o falo, o objeto do desejo, da mãe, nem essa será o falo da criança. Nem mesmo quem exerce a função de pai terá o falo. A mãe, que se situa no lugar do Outro, transmitirá para a criança que o desejo está em outro lugar - o “pai”, o mundo, o fora. O falo, um objeto excêntrico e estrangeiro, é um significante de uma casa vazia, como dirá Deleuze em “Lógica do sentido”, que orienta um desejo sem representação e em perpétua diferenciação, permitindo a comunicação entre as séries significantes e seus platôs de intensidades. A lei social é o que permite sair dos perigos narcísicos da identificação ao falo, que nos objetifica, para ver que além de ser um deslocamento, o desejo é também uma condensação, que nos subjetiva e permite a escolha (cortes relacionais e decisões vitais). A lei interdita o sujeito e o Outro, evidenciando de que não são completos, mas barrados, em falta, não determinados. O que nos permite a escolha e a construção de nossa determinação singular. Nessa medida a Lei é vazia e o desejo é criador, cujos limites sócio-simbólicos podem ser a cada vez franqueados por um ato.
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O percurso de Lacan: a metáfora paterna e a estrutura social do desejo
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