Quando estudávamos e fotografávamos as igrejas baianas para o fazimento do livro BASÍLICAS E CAPELINHAS, fomos, eu e meu marido, à missa dominical na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho. Era o dia de Santo Antonio. Igreja lotadíssima, e, aí, o inusitado - os músicos não apareceram. Do altar, o padre, negro, exclamou: “não há missa nesta igreja sem batuque!” Incontinenti, batuqueiros de plantão, como só na Bahia tem, tomaram os instrumentos e a missa começou. Nunca vi liturgia mais bonita! Denominada Missa do Morro em sua origem, a liberdade celebrativa foi inaugurada, a pedido de Dom Eugênio Sales quando arcebispo em Salvador, na década de 1960, por Dom Timóteo Amoroso, beneditino, sobrinho do católico leigo mais ilustre, Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Atayde, quando, no pós Vaticano II, era orientação da Santa Sé o diálogo inter-religioso. Dom Timóteo, amigo de Mãe Olga do Alaketo, assumiu com louvor o encargo e a missa, que inicialmente era realizada no Mosteiro de São Bento, com o tempo perdeu o nome e transferiu-se para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho. Ainda hoje, o rito oficial da Igreja é celebrado com muito batuque, dança e alegria, próprios dos negros. Não esqueço o Canto de Ofertório, mas que dizia (cito de fraca memória): “Nós viemos trazer, Senhor, coisas de negro”. E aí se seguia um rol de oferendas: “o suor do meu rosto, Senhor - coisa de negro; as injustiças sociais, Senhor - coisa de negro”... Penso que nenhuma oferenda é tão cara a Deus.
O filme que o Canal Cultura Popular Brasileira apresenta hoje é uma pequena mostra da musicalidade dos integrantes da Irmandade do Rosário dos Pretos.
Helenita Monte de Hollanda
Негізгі бет O SINCRETISMO DO ROSÁRIO DOS PRETOS
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