Meu Negro
(Ricardo Aleixo / Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-22-00003
Nunca serei apenas o seu negro
sou o meu negro
antes de ser seu
Posso despejar sobre sua brancura
a negrura que define um negro
aos olhos de quem não é negro
Desde menino eu misturo
o antes, o agora e o depois
sei somar zero com zero
e ainda divido por dois
Os brancos me temem mais que aos outros brancos
que temem e ao mesmo tempo
desejam o meu corpo
Não sou negro em todos os momentos
apenas quando querem
que eu seja negro
Desde menino eu misturo
o antes, o agora e o depois
sempre que posso eu passo
o carro à frente dos bois
Sem poder quebrar a pedra
a água esculpe na pedra
o que há de pedra esquecido
no seu quem próprio de água
Sem poder deter a água
a pedra enfim reconhece
no gesto lento e constante da água
seu quem de pedra
Nos momentos em que não sou só negro
sou alguém tão sem rumo
quanto o mais sem rumo dos brancos
Você quase nunca pensa a respeito dos negros
eu não sou apenas o que
você pensa que eu sou
Desde menino o meu pensamento
dança feliz no meio do povo
e deus joga porque sabe que
eu era felino e não sabiá
Morrer é com os vivos
Chorar é com as nuvens
Saber é com os livros
Voar é com as pedras
Durar é com o tempo
Soprar é com o vento
Pisar é com os pés
Ouvir é
Faixa 03 - EP Andanças (Zenyatta Records, 2022), de Orange Poem & Mateus Aleluia Filho
Mateus Aleluia Filho - voz
Emmanuel Mirdad - violão 12 cordas
Hosano Lima Jr. - bateria
Tadeu Mascarenhas - baixo, rhodes e arbon
Sebastian Notini - derbake, karkabou, bendir e chaves
Produzido por Emmanuel Mirdad e Tadeu Mascarenhas
Gravação, mix e master:
Tadeu Mascarenhas no estúdio Casa das Máquinas, Salvador, Bahia, out a dez/2021
“Meu Negro” reúne trechos de sete poemas do escritor mineiro Ricardo Aleixo, presentes no livro “Pesado demais para a ventania” (Todavia, 2018), musicados por Emmanuel Mirdad
Capa: Movimento 1989
Info: elmirdad.blogs...
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