O sucesso que fazem hoje Messi, Cristiano Ronaldo e Mbappé mundo afora, não chega nem perto da idolatria que milhares de pessoas tinham pelo nosso Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, nos anos de 1960 e 1970 - quando a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial de futebol. Nesse passado glorioso do futebol brasileiro - época sem internet e rede social, é bom lembrar - jornalista esperto sempre arranjava um jeito de levar na mala, durante suas viagens internacionais, um conjunto de camisas da seleção brasileira com o número 10 gravado nas costas. A “amarelinha do Pelé” servia como passaporte para situações complexas em aeroportos e de “souvenir” para ser oferecida em qualquer parte do mundo. Especialmente para abrir portas, escapar de encrencas e ser bem recebido.
O jornalista Sebastião Marinho, uma lenda do fotojornalismo brasileiro e que em dezembro completa 87 anos, lembra bem dessa época. Com passagem por diversos jornais e revistas do país, especializado em cobertura esportiva, o fotógrafo fez centenas de viagens internacionais cobrindo futebol e a seleção brasileira. Conheceu praticamente todos os continentes do planeta. Em mais um episódio do Acervo Jornalista Gustavo de Lacerda, ele contou um pouco de sua trajetória e narrou uma passagem inusitada envolvendo a figura do ‘Rei do Futebol'.
Foi na alfândega do Aeroporto Internacional Rei Khalid, em Riade, capital da Arabia Saudita.
Eu acho que isso ocorreu em 1969 quando a seleção brasileira estava fazendo uma espécie de excursão preparatória para a Copa do Mundo de Futebol no México. Os policiais e fiscais implicaram com meu equipamento quando a mala passou pela esteira do raio-X. Uma das lentes da minha máquina fotográfica Nikon parecia mesmo uma pistola. Resumo: fui levado para uma revista mais rigorosa numa sala reservada do aeroporto - conta Sebastião Marinho.
Para os mais jovens, uma informação: nos anos de 1960 e 1970, os fotógrafos viajavam levando na mala um “laboratório fotográfico” para revelar os filmes (não havia a fotografia digital) e fazer a transmissão das fotografias para os jornais e revistas. Em outras palavras: era muita bagagem, muita correria e muito equipamento estranho na bagagem. O que sempre provocava desconfiança em policiais e fiscais nos aeroportos.
Na sala durante a revista, eu fui mexer na máquina fotográfica para retirar as pilhas. A Nikon precisava de oito pilhas para funcionar. Quando eu comecei a retirar vem o espanto: os policiais começam a falar, repetidamente: “Pelé”, “Pelé”, “Pelé”. E então eu percebi o retrato do rei gravado nas pilhas Rayovac e todos olhando a imagem do Rei do Futebol. O clima mudou na hora! Eu fui liberado, mas o conjunto de pilhas ficou com os policiais e fiscais. Pelé me salvou. - lembrou Marinho.
Com o sucesso no futebol, Pelé passou a ser uma das pessoas mais conhecidas do planeta. No Brasil, isso rendeu dezenas de convites para fazer propaganda e comerciais dos mais variados tipos. Uma das propagandas era exatamente das pilhas “Ray-O-Vac” em que o craque aparecia de chuteira, calção e camisa amarela e azul.
Nascido em Santos Dumont, na região da Zona da Mata de Minas Gerais, Sebastião Marinho teve uma carreira brilhante. E histórias para contar não faltam. De “lambe-lambe” na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, alcançou o reconhecimento nacional trabalhando duro. Com seu olhar atento e mãos ágeis, Marinho também chamou a atenção de Assis Chateaubriand, o todo poderoso dono dos Diários Associados, e foi professor de fotografia até mesmo de Roberto Marinho, outro “Barão” da imprensa brasileira.
Na capital mineira ele começou a ter contato com a arte de fotografar trabalhando como “lambe-lambe”. Esse nome se refere ao movimento que o fotógrafo faz ao molhar a emulsão fotográfica com um pincel ou esponja para revelar a imagem, como se estivesse "lambendo" a foto. Os “lambe-lambe” eram comuns em locais públicos, como praças, parques e avenidas movimentadas, especialmente antes da popularização das câmeras instantâneas e digitais. Eles ofereciam serviços rápidos e acessíveis, como fotos para documentos, retratos e registros de eventos.
O relato do fotógrafo Sebastião Marinho é o décimo programa do Acervo Jornalista Gustavo de Lacerda que vai ao ar, nesta terça-feira, 6 de agosto, às 11h, no canal ABI TV no KZitem, um programa da diretoria de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), liderada por Luis Paulo Lima, em parceria com o Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), representado pelos professores Mauro Silveira e Carlos Alves.
Негізгі бет “Pelé me salvou durante uma excursão da seleção brasileira.”
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