O lugar de Santo António, freguesia do Norte Grande, na costa norte da ilha de S. Jorge, é uma das localidades do arquipélago com tendência para decrescer o seu efetivo demográfico, na atualidade. Esta é uma situação que leva a uma desertificação populacional preocupante nos dias de hoje, em algumas das ilhas açorianas.
Nesta freguesia fomos encontrar uma das tradições alimentares relacionadas com as festas em honra do Divino Espírito Santo mais peculiares. Referimo-nos ao bolo de coalhada, produto proveniente do coalho do leite.
Esta é uma tradição alimentar, do período das festas em honra do Divino Espírito Santo, em vias de extinção e que hoje é praticada exclusivamente no lugar de Santo António, freguesia do Norte Grande, na costa norte da ilha de S. Jorge.
O facto de ser um bolo que requer algum tempo, paciência e motivação para preparar e confeccionar, bem como um número elevado de mão de obra e grande quantidade de leite para a sua confecção (para 30 bolos, são necessários 150 litros de leite), tornam esta iguaria praticamente impraticável para estar disponível na restauração e em outras superfícies comerciais.
Para conhecer e recolher a memória biográfica, em torno do bolo de coalhada, fomos até Santo António falar com Albano Gomes e Fátima Dias.
Embora a comunidade local aponte a origem deste bolo para o século XIX, é importante mencionar que o aproveitamento da coalhada é referenciado para períodos anteriores na história insular e atlântica. Temos o exemplo da torta de cuajada, na ilha de Gomera, no arquipélago das Canárias, que é um tipo de pão, muito semelhante ao bolo de coalhada, servido durante a Semana Santa nesta ilha.
Um dos testemunhos orais mais credíveis, para entender as reminiscências mais desta tradição, é o senhor Enes, ancião de Santo António, atualmente com 101 anos de idade, e que ainda tem na sua memória as lembranças contadas pelos seus antepassados. Estas lembranças apontam para a década de 1850 a origem deste bolo, época de grandes carências alimentícias na ilha devido, particularmente, à falta de cereais.
Este testemunho é corroborado pela leitura dos estudos do historiador jorgense, José Cândido da Silveira Avelar (São Jorge, 1843 - Horta, 3 de dezembro de 1905), que em 1902 publicou a obra de referência para o conhecimento da história de S. Jorge, “Ilha de S. Jorge (Açores) - Apontamentos para a sua História”, no qual aponta um período de fome balizado entre 1857/59.
Os seus ingredientes são: “(…) cento e cinquenta litros de leite, coalho, sal, sessenta ovos, um quilograma e meio de açúcar, raspa de quatro limões, um cálice de aguardente, uma pitada de canela e de noz-moscada, farinha de trigo e de milho, que baste”. (Cardoso, 2018: 150-151.)
Forma de citar o texto: CHAVES, Duarte Nuno. 2022. “O Bolo de Coalhada. Uma tradição do lugar de S. António na mesa do Divino Espírito Santo.” in: TASTE - Taste Azores Sustainable Tourism Experiences.
Vídeo produzido no âmbito do trabalho de campo realizado pelo projeto TASTE.
TASTE é um projeto desenvolvido pelo CEEAplA (Centro de Estudos de Economia Aplicada do Atlântico) e pelo CHAM - Centro de Humanidades da Universidade dos Açores, com a colaboração da Direção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores.
Projeto financiado pelo PO Açores 2020 ACORES-01-0145-FEDER-000106.
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