Depois de Uma História na Cama (1997) de Sean O'Casey e Oeste Solitário (2006) de Martin McDonagh, o Teatro das Beiras regressa à dramaturgia irlandesa com MOLLY SWEENEY, de Brian Friel.
Friel (1929 - 2015) expande a sua obra por mais de 3 dezenas de peças, tendo merecido especial atenção e divulgação na última década do século XX. Cofundador, com o ator Stephen Rea, da Field Day Theatre Company, tem sido traduzido e encenado em Portugal desde os anos 70 do século XX, com títulos como Amantes e Triunfantes (1970/71), Pais e Filhos (1991), Traduções (1996), Danças a um deus pagão (1996), Molly Sweeney (1999), O Fantástico Francis Hardy, curandeiro (2000) e Terapia das Almas (2019), que o situam na linhagem de Yeats e de Synge, universalizando as especificidades irlandesas, convocando à reflexão induzida pela emoção e imaginação sustentadas na valorização da palavra, muito embora “as palavras não sejam dotadas de plenos poderes até um actor as libertar e as preencher”.
A estreia de Molly Sweeney em 1994 no Gate Theatre ficou marcada por ser a primeira encenação de Brian Friel, experiência que voltaria a repetir em 1997 com Give me your answer. O espetáculo teve na altura uma receção dividida entre o louvor e o ceticismo. A peça chega ao público português em 1999 através do Ensemble - Sociedade de Actores, com encenação de Nuno Carinhas.
O texto estrutura-se a partir da alternância das narrativas de três personagens sem interação umas com as outras - Molly, uma mulher independente e capaz, cega desde a infância, submete-se a uma cirurgia para tentar restaurar a visão; Frank, o entusiasta e inquieto marido que faz da cegueira da esposa a sua última causa; e Dr. Rice, outrora um famoso cirurgião, agora um alcoólico caído em desgraça que tenta restaurar a visão de Molly, numa tentativa de recompor a sua reputação.
Parte da construção dramática do texto é inspirada no estudo “Ver e Não Ver” de Oliver Sacks, mais especificamente em Virgil, um homem cego desde a infância cuja visão fora recuperada em adulto e, assim como Molly, após a operação, vê o seu mundo percetivo desmoronar e não se consegue ajustar ao novo mundo visual. A sua experiência é descrita como um “milagre abortado”.
No final, Molly diz: “vivo agora num país de fronteiras” onde as perceções deixaram de ser fidedignas, e a loucura e a realidade se fundem no mesmo caos.
Ficha Artística
Autor: Brian Friel
Tradução: Paulo Eduardo Carvalho
Encenação: Nuno Carinhas
Assistente de encenação: Sílvia Morais
Cenografia, figurinos, cartaz e pintura de telão: Luís Mouro
Desenho de luz: Fernando Sena
Interpretação: João Melo, Susana Gouveia e Tiago Moreira
Sonoplastia: Hâmbar de Sousa
Carpintaria: Ivo Cunha
Costureira: Sofia Craveiro
Produção: Celina Gonçalves
Assistente de produção: Patrícia Morais
Fotografia e vídeo: Ovelha Eléctrica
Duração aprox.: 120 min.
Classificação etária: Para maiores de 12 anos
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