Com os pés quase dormentes,
Com a paz quase dormente;
Com o corpo quase em sono, me levanto. Vejo da janela, chuva de balas, ouço em uníssono risos.
De repente muitas bocas abertas rindo, cortam o ar pela cidade até minha janela. O som é branco. O cheiro é branco.
Fecho a janela. Os dentes me perseguem até o ponto de ônibus. Perseguem meus dois meninos da porta de casa a porta da escola. Antes de o ônibus fechar a porta, eles me alcançam.
Apesar de os dentes estarem para me devorar, eu os pego, com as mãos de aço, quebro com os dedos e os mastigo; deixo ferver na barriga, qualquer ódio, pelos meus dois meninos. Esses brancos de uniforme tem fomes de crianças pretinhas.
De qualquer pele mais escura.
Se enganam, todos. Com meus dentes e meu ódio, eu não falo, nem provo, nem mais mastigo, eu preparo no meu corpo comida que não se alimenta, mas envenena a quem mirar em mim.
Enquanto o ódio salvar peles assim, eu é que mostro os dentes.
Texto de Ana Carol Ferreira, inspirado no dizer de Milton Santos.
Негізгі бет VIDAS NEGRAS IMPORTAM
Пікірлер: 68